Publicado em
27/06/2025
às 10:27
Ceres
Em mais uma escalada do conflito no Oriente Médio, no dia 13 de junho, Israel atacou o Irã, alegando como objetivo a destruição do programa nuclear iraniano e a prevenção da possível construção de uma bomba atômica. O Irã respondeu com o lançamento de mísseis de alta tecnologia, que superaram com facilidade o famoso sistema de defesa israelense.
Ataques recíprocos ocorreram em larga escala. O Irã sofreu severas perdas em seus ativos militares; integrantes da alta cúpula da Guarda Revolucionária e cientistas do programa nuclear foram assassinados, usinas nucleares foram parcialmente destruídas, sistemas de defesa foram neutralizados, unidades militares foram atingidas por ações israelenses, e sua capital, Teerã, sofreu ofensivas significativas. Por outro lado, Israel teve suas principais cidades, como Haifa, Tel Aviv e Jerusalém, intensamente atacadas pelo contra-ataque iraniano.
Durante o conflito, o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, interveio inicialmente com pressões e ameaças. Em seguida, autorizou o envio de bombardeiros B2 com o objetivo de colaborar com Israel, visando o uso da única bomba capaz de penetrar na usina de Fordow, localizada em uma montanha, com instalação subterrânea a mais de 80 metros de profundidade. Durante os confrontos, diversas narrativas foram divulgadas, cada parte envolvida alegando vitórias no teatro de operações.
Enquanto Israel, Irã e EUA se enfrentavam, os palestinos da Faixa de Gaza continuavam sendo massacrados. Dezenas eram assassinados por Israel ao tentarem enfrentar intermináveis filas em busca do escasso alimento básico, fornecido por organismos internacionais e países sensibilizados com o que já é considerado o maior genocídio do século XXI. O Estado sionista perpetuava o anunciado extermínio étnico do povo palestino. A ação destrutiva e sanguinária dos israelenses não se restringia à Faixa de Gaza. Na Cisjordânia, militares e colonos judeus expulsavam os residentes, invadiam, desapropriavam e assassinavam os legítimos proprietários das terras, cujos territórios são constantemente reduzidos para dar lugar à instalação de colonos israelenses.
Após doze dias de conflito e com a intervenção de Donald Trump, surgiu um tênue cessar-fogo entre Israel e Irã. Tanto o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, quanto o líder supremo iraniano, Aiatolá Ali Khamenei, alegaram terem saído vitoriosos do embate. No entanto, a verdade é que ambos perderam: vidas foram ceifadas de ambos os lados, sendo que a maioria dos mortos era de iranianos, conforme relatado pela mídia.
Fora do campo de batalha, é importante destacar que os interesses por trás desse conflito são nebulosos, permeados por influências geopolíticas e econômicas na região rica em petróleo — a commodity energética mais cobiçada pelas grandes potências mundiais. Após a Segunda Guerra Mundial, os EUA emergiram como um império com a necessidade de impor seu poder, utilizando a força ou articulando alianças e pactos em benefício próprio. Nesse contexto, a criação do Estado de Israel, em 1948, foi um marco estratégico para fortalecer sua ambição capitalista e sua política expansionista.
Com o Acordo de Bretton Woods, firmado ao final da Segunda Guerra, consolidou-se o monopólio americano: o dólar passou a ser atrelado ao ouro, tornando-se a moeda internacional, o que beneficiou exclusivamente os EUA. Isso porque a maioria das transações comerciais globais passou a ser realizada em dólar, por meio do sistema financeiro internacional SWIFT. Os EUA investiram fortemente em sua capacidade bélica, tornando-se a maior força militar do planeta, com bases espalhadas em diversos países, sobretudo no Oriente Médio.
Se hoje a região do Oriente Médio é considerada um barril de pólvora, é necessário compreender que a criação unilateral do Estado de Israel em 1948, contrariando a proposta de partilha entre dois Estados — um israelense e outro palestino — foi considerada injusta pelos árabes e desencadeou pelo menos três grandes guerras: a Guerra da Independência (1948), a Guerra dos Seis Dias (1967) e a Guerra do Yom Kippur (1973). Israel saiu vitorioso desses conflitos e se apropriou de vastas áreas do território palestino. Atualmente, os palestinos estão confinados a duas regiões: a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Dos 18 países do Oriente Médio, a maioria é de etnia árabe, com exceção da Turquia, do Irã (de origem persa) e de Israel, este último o único não muçulmano, cuja religião predominante é o judaísmo. Entre os países islâmicos, há duas principais vertentes: sunitas e xiitas, distribuídas conforme a origem tribal. Apesar de professarem a mesma fé islâmica, as divergências entre xiitas (minoria) e sunitas são profundas e frequentemente resultam em embates pelo poder regional.
O conflito entre Rússia e Ucrânia, ainda que localizado no Leste Europeu, tem reflexos no Oriente Médio, especialmente na atual conjuntura geopolítica que coloca Rússia e China como antagonistas dos interesses norte-americanos e israelenses. Nesse tabuleiro de poder, o Irã figura como peça-chave, resistindo aos EUA por meio de parcerias comerciais e militares com China e Rússia. Apesar de enfraquecido devido à perda de seus proxies (representantes em guerras por procuração), como o Hamas (em Gaza), o Hezbollah (no Líbano) e os Houthis (no Iêmen), o Irã ainda se mantém como principal bastião do chamado "Eixo da Resistência".
O Irã atual, antiga Pérsia, foi governado até 1979 por uma monarquia liderada pelo xá Reza Pahlavi, alinhado aos interesses dos EUA e de Israel. Seu governo favorecia apenas as elites, o que gerou insatisfação popular e culminou na Revolução Islâmica. Com a ascensão do aiatolá Khomeini ao poder, o país rompeu com os EUA e Israel, passando a sofrer sanções e embargos que fragilizaram sua economia e capacidade militar, mesmo sendo um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
As forças armadas iranianas são hoje consideradas defasadas, com equipamentos da época da monarquia, como os caças F-14 (EUA) e MiG-29 (URSS). Sem acesso a peças de reposição, esses modelos tornaram-se obsoletos, especialmente em comparação aos modernos F-22 e F-35 de Israel (5ª geração). Como alternativa, o Irã investiu fortemente em seu programa de mísseis, tornando-se referência nessa tecnologia, com armas de alto poder destrutivo e precisão, surpreendendo a comunidade internacional.
Os EUA, por sua vez, também enfrentam dificuldades: possuem uma dívida externa superior a 30 trilhões de dólares e uma economia em declínio. A manutenção de sua imensa máquina militar tem custo elevado, comprometendo sua estabilidade. O presidente Trump adota uma postura agressiva em relação à China, à Rússia e aos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), principalmente diante da proposta desses países de criação de uma nova moeda, excluindo o dólar.
No Oriente Médio, a aproximação entre China, Rússia e países árabes incomoda os EUA, sobretudo em relação ao Irã, que tem conseguido driblar sanções ao comercializar petróleo com China e Rússia — uma das poucas fontes de receita ainda disponíveis. Sua produção energética depende de usinas nucleares, com investimentos russos expressivos. Durante os recentes ataques israelenses, havia engenheiros e operários russos atuando nessas usinas, razão pela qual Israel evitou atingi-los.
O argumento israelense e norte-americano para atacar o Irã, com base na suposta produção de urânio enriquecido além do limite permitido (4%), visando à fabricação de armas nucleares, é infundado e contraria pareceres da Agência Internacional de Energia Atômica e do serviço secreto dos EUA. O verdadeiro objetivo é derrubar o regime iraniano, enfraquecer a Rússia e, principalmente, conter o avanço da China. Com isso, os EUA buscam consolidar seu domínio sobre a região, fortalecer Israel como base estratégica e explorar a maior riqueza do Oriente Médio: o petróleo.
Samir Lima Habach
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